Alcoolismo é a principal causa de afastamento do trabalho por transtorno mental
O
levantamento de dados foi liderado pelo INSS, que concluiu ser o
alcoolismo o principal motivo de pedidos de auxílio-doença por
transtornos mentais e comportamentais
Foto: Patrick Stollarz/ AFP
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apontam que o
alcoolismo é o principal motivo de pedidos de auxílio-doença por
transtornos mentais e comportamentais por uso de substância psicoativa. O
número de pessoas que precisaram parar de trabalhar e pediram o auxílio
devido ao uso abusivo do álcool teve um aumento de 19% nos últimos
quatro anos, ao passar de 12.055, em 2009, para 14.420, em 2013.
Os
dados mostram que os auxílios-doença concedidos as pessoas com
transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas passaram
de 143,4 mil. Cocaína é a segunda droga responsável pelos auxílios
concedidos (8.541), seguido de uso de maconha e haxixe (312) e
alucinógenos (165).
São
Paulo teve o maior número de pedidos em 2013 por uso abusivo do álcool,
com 4.375 auxílios-doença concedidos, seguido de Minas Gerais, com
2.333. Integrante do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo
(CRESS-SP), o assistente social Fábio Alexandre Gomes ressalta que o
aumento é extremamente superficial, visto que boa parte da população não
contribui para o INSS e por isso não tem direito a este benefício.
“O
impacto do álcool hoje na vida das pessoas é muito maior. Muitos casos
inclusive de uso abusivo do álcool estão associados com a situação de
desemprego. E a juventude tem iniciado experiências cada vez mais cedo”,
explica ele. “Tenho casos frequentes de crianças fazendo uso abusivo de
álcool a partir dos oito anos. Estou acompanhando um menino que hoje,
com dez anos de idade, usa crack, mas a porta de entrada foi o álcool”,
conta o assistente social ao relatar que por ser uma substância
socialmente permitida em casa, acaba sendo de fácil acesso.
Ele
também relata aumento sensível de mulheres que não aderem ao
tratamento, fruto de preconceito social. “Na minha experiência como
assistente, este consumo abusivo está ligado principalmente a relações
de violência, sobretudo, amorosas. E geralmente o consumo é de cachaça”,
ressaltou. Ele criticou a concentração de políticas públicas dirigidas a
substâncias ilícitas, quando o álcool é uma das substâncias lícitas
cada vez mais usadas por adolescentes e mulheres, independentes da
classe social. Gomes ressalta que faltam campanhas que falem do impacto
do álcool na gravidez.
“O
consumo do álcool durante a gestação é algo que não se discute muito.
Muitas gestante pensam 'ah está muito calor vou tomar só um copinho',
sem saberem o impacto que isso tem na formação das crianças”, alertou
Alexandre Gomes.
Há 24 anos
sem beber uma gota de álcool, o vendedor autônomo João Souza, 54 anos,
morador do Rio de Janeiro, acredita que largar o vício sem ajuda
profissional é “praticamente impossível” e afirma que não existe cura
para a doença. “A família é muito importante, mas sozinha não dá conta
se não houver apoio profissional. A questão não é moral, é bioquímica,
de estrutura e só com muito tratamento”, pondera ele. “Procurei os
Alcoólicos Anônimos (AA) e vou lá até hoje, faço a manutenção, porque
preciso” conta ele.
O
auxílio-doença é um direito de todo trabalhador segurado pelo INSS, que
não perde o emprego ao se ausentar. Para pedir o auxílio-doença por uso
abusivo de droga, o solicitante deve ter pelo menos 12 meses de
contribuição e comprovar, por meio de perícia médica, a dependência da
droga que o incapacite de exercer o trabalho. A valor do benefício varia
de acordo com o valor recolhido pela Previdência Social.
Segundo
a assistente social Andresa Lopes dos Santos, também integrante do
Cress-SP, o benefício é um grande avanço para o trabalhador brasileiro,
pois assegura a manutenção financeira da família, mantém o vínculo do
trabalhador no emprego, que pode se tratar enquanto estiver de licença.
“É importante um trabalho para dar o suporte à família e ao dependente
do álcool, que muitas vezes sustenta a família poderá fazer um
tratamento”, salientou ela.
Publicado em 20.02.2014, às 15h10